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“Zen é,

Não confiar na palavra escrita,

Uma transmissão especial;

Independente dos textos sagrados,

Voltar-se para a própria mente,

Ver a própria natureza,

Tornar-se um Buda!”

Bodhidharma (?528 d.C.)

O Budismo chegou à China 2.000 anos atrás. Reporta-se que já no ano 65 d.C., uma comunidade de monges budistas vivia sob proteção da realeza na parte norte da Província de Kiangsu, próxima do local de nascimento de Confúcio, e os primeiros monges provavelmente chegaram 100 anos antes.

Desde então, dezenas de milhares de monges da Índia e da Ásia Central têm viajado para China por terra e mar, mas dentre aqueles que trouxeram os ensinamentos de Buda para China, nenhum teve impacto comparável ao de Bodhidharma.

Conhecido apenas por alguns discípulos durante sua vida, Bodhidharma é o patriarca de milhões de zen-budistas e de estudantes de kung-fu. Também é o protagonista de muitas lendas. Além de ter trazido zen e kung-fu, relata-se também ter trazido o chá para a China. Para se resguardar de cair no sono durante a meditação, ele cortou suas pálpebras, e onde elas caíram cresceram arbustos de chá. Desde então, o chá tornou-se a bebida não somente de monges, mas de todos no Oriente. Fiéis a essa tradição, os artistas invariavelmente representam Bodhidharma com olhos salientes e sem pálpebras.

Como sempre acontece com as lendas, tornou-se impossível separar fato de ficção. As datas são incertas. De fato, eu conheço pelo menos um erudito budista que duvida que Bodhidharma tenha existido. Mas correndo o risco de escrever sobre um homem que nunca existiu, eu esbocei uma biografia, baseada nos registros mais recentes e algumas suposições, para fornecer um cenário para os sermões a ele atribuídos.

 Bodhidharma nasceu em torno do ano 440 em Kanchi, capital do reino sulista indiano de Pallawa. Ele era um brâmane de nascimento e o terceiro filho do Rei Simhavarman. Quando ele era jovem, ele converteu-se ao budismo, e mais tarde o Dharma lhe foi ensinado por Prajnatara, de Magadha, que foi convidado pelo seu pai. Magadha era o antigo centro do budismo. Também foi Prajnatara quem disse para Bodhidharma ir para China. Uma vez que a tradicional rota terrestre estava bloqueada pelos hunos, e uma vez que Pallawa tinha laços comerciais por todo Sudeste Asiático, Bodhidharma partiu de navio de um porto nas proximidades, Mahaballipuram. Depois de contornar a costa da Índia e a Península da Malásia por três anos, ele finalmente chegou ao sul da China ao redor do ano 475.

Nessa época o país estava dividido pelas dinastias Wei do norte e Liu Sung. Essa divisão da China numa série de dinastias nortistas e sulistas começou no início do Séc. III e continuou até o país ser reunificado sob a dinastia Sui no fim do Séc. VI. Foi durante esse período de divisão e conflito que o budismo indiano transformou-se em budismo chinês, com os nortistas de mente militarista enfatizando meditação e mágica e os intelectuais sulistas preferindo discussão filosófica e a compreensão intuitiva de princípios.

Quando Bodhidharma chegou à China, no fim do Séc. V, haviam aproximadamente 2 mil templos budistas e 36 mil clérigos no sul. Ao norte, um recenseamento em 477 contou 6,5 mil templos e aproximadamente 80 mil clérigos. Menos de 50 anos mais tarde, outro recenseamento feito ao norte aumentou esses números para 30 mil templos e 2 milhões de clérigos, ou cerca de 5% da população. Sem dúvida, isso incluía muitas pessoas que estavam tentando evitar impostos ou recrutamento ou que procuravam a proteção da igreja por outras razões não religiosas, mas claramente o budismo estava espalhando-se pelas pessoas comuns ao norte do Rio Yangtze. No sul, permaneceu muito confinado à elite educada até o Séc. VI.

 Seguindo a sua chegada ao porto de Nanhai, Bodhidharma provavelmente visitou centros budistas no sul e começou a aprender Chinês, se é que ele já não havia feito isso em seu caminho desde a Índia. De acordo com A Transmissão da Lâmpada de Tao-yuan, obra terminada em 1002, Bodhidharma chegou ao sul tarde, em 520, e foi convidado para capital em Chienkang para uma audiência com o Imperador Wu da dinastia Liang, sucessor de Liu Sung. Durante esse encontro o imperador perguntou sobre o mérito de executar trabalhos religiosos, e Bodhidharma respondeu com a doutrina do vazio. O imperador não entendeu, e Bodhidharma partiu. Os registros mais recentes, no entanto, não mencionam tal encontro.

Pintura em versão japonesa

 

Bodhidharma

“Ao longo da roda sem fim dos nascimentos e
renascimentos.
Em busca vã. empenhei-me em encontrar
Quem concebera o edifício.
Que miséria! Nascer, sem cessar!
Ó construtor, eis que vos descobri!
Esta obra, não a reconstruireis jamais!
Todas as vigas estão destroçadas,
O teto pontiagudo jaz por terra!
Este espírito logrou a dissolução
E assistiu à cessação do desejo!”

Mil anos separam o canto vitorioso do Buda, após obter a iluminação, da chegada de Bodhidharma, o propagador do Zen, à China.
E, contudo, a mesma procura, a mesma exigência os une: logo outros cantos de vitória seriam ouvidos em terra chinesa.
Os adeptos do Zen sempre desejaram estabelecer uma filiação espiritual de mestre a discípulo desde Gautama até Bodhidharma, o último patriarca indiano. Mas é preciso levar em conta que essa genealogia tardia não encontra respaldo algum nos documentos históricos. Devemos, pois, considerá-la com precaução.
Segundo os textos, o Zen foi diretamente transmitido pelo Buda a seu discípulo Mahakashyapa durante uma reunião da congregação.
Gautama apresentara uma flor á assembleia sem dizer uma palavra. Somente Mahakashyapa compreendera a alusão, respondendo com um sorriso…
Uma anedota, verdadeira ou apócrifa, tem o mérito de traduzir com exatidão o espírito não-verbal do Cha´n tal como Bodhidharma o propagou.
Os “genealogistas” do budismo nomeiam vinte e sete patriarcas indianos, que se sucederam sem interrupção até Bodhidharma. Este último, filho de um brâmane convertido ao budismo, foi enviado pelo imperador Wu á corte de Nanquim.
O relato dessa entrevista tornou-se lendário. Tem já o sabor, o tom lapidar, o estilo e a jovialidade que farão a glória dos mestres do Ch’an.

O imperador, budista fervoroso, tentou alardear aos olhos do missionário a soma dos méritos que acumulara em anos de serviço à religião: subvenções aos monastérios, cópias de escrituras, edificação de templos e santuários.
Asperamente, Bodhidharma retrucou que não via nisso motivo algum de glória, tais “méritos” estavam totalmente destituídos de valor!
Aturdido, o imperador cobrou explicações.
– Isso tudo não representa mais que atos insignificantes dos homens. Quanto aos deuses, são apenas uma fonte fugidia de recompensas que os segue como a sombra segue o corpo. Ora, a sombra não existe, embora o pareça.
– Qual é, pois, o verdadeiro mérito?
– Ele consiste na compreensão da sabedoria pura, cuja substância é o silêncio e o vazio. Mas não se pode aspirar a esse mérito como o mundo o faz.
Cada vez mais confuso, o imperador ainda replicou:
– Qual é o primeiro princípio da doutrina sagrada?
A resposta veio como uma bala de canhão:
– Um vazio insondável e nada de sagrado!
Sem argumentos, o monarca tentou pela última vez confundir o sábio:
– O que é que está diante de mim?
– Não sei.

Bodhidharma pediu permissão e deixou o imperador. Diz a lenda que enfurnou-se por sete anos numa grota, mantendo-se assentado diante de uma parede- Antes de morrer, transmitiu o conhecimento a seu primeiro discípulo.

Essa história, qualquer que seja sua veracidade original, exprime perfeitamente a via negativa ou apofática que não tardaria a constituir a essência da prática zen-budista.

Ao imperador ávido por estadear seus méritos e ocupar-se das coisas sagradas, Bodhidharma replica que semelhante concepção religiosa é absurda, votada à confusão. Enquanto insistimos em perpetuar algo como o ‘mérito”, alimentamos a crença de que somos um ser distinto, autônomo.

Finalmente, ao ser solicitado a definir sua natureza, Bodhidharma esquiva-se à pergunta e finge nada saber.

Tal é a “parede” do Tch’an: um vazio impenetrável, nem sagrado, nem profano.

O Zen recusa-se à instigação equivoca da teorização e da abstração.

Bodhidharma enunciou quatro princípios essenciais ao conjunto do “pensamento” zen ulterior. Esses princípios tornaram os adeptos imunes ao pietismo e à fé cega.

– Transmitir sem levar em conta as escrituras.
– Não depender de palavras ou textos.
– Avançar diretamente rumo ao espírito do homem.
– Contemplar sua própria natureza e alcançar a condição de buda.

Evitando fundamentar-se em textos, o ch’an afasta as tentações fetichistas e escolásticas comuns às religiões. Quantos fiéis não se perderam no estudo e na exegese, esquecendo sua natureza inerente e deixando-se embair pelo encantamento místico ou pela razão discursiva!O que importa é o espírito do homem aqui e agora, sem a proteção ilusória de escrituras sagradas.Alertada pela presença de um sábio, a pseudopersonalidade deseja exibir méritos conseguidos com prática vaidosa. Mas os mestres do Tch’an sabem sempre encontrar a brecha na couraça e apontar a verdade…O espírito Tch’an não se reveste de discursos, mas como uma ave de rapina ataca a presa oferecida pelo questionador desatento, imbuído de sua personalidade mesquinha.

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Shifu Luis Mello

Eu ensino a trabalhar, lutar e comer. Podemos rir e chorar juntos. Eu não serei seu guia espiritual! Há 20 anos ensino Kung Fu, Budismo e Cultura Chinesa aos brasileiros. Junte-se a mim nesta jornada!

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